segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Camané apresentou novo álbum em 2008

O fadista Camané apresentou no Centro Olga Cadaval, em Sintra, o seu novo álbum, «Sempre de mim», em que canta inéditos de Alain Oulman.

Com o fadista no palco do Olga de Cadaval estiveram José Manuel Neto (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Paulo Paz (contrabaixo).

Além dos inéditos que Alain Oulman compôs exclusivamente para Amália Rodrigues, o novo álbum, editado pela EMI Music Portugal, inclui poemas de Luís de Macedo, outro nome ligado à fadista, falecida em Outubro de 1999.

De Macedo é «Mar impossível» que abre o álbum e que Camané canta na música do «Fado Carriche» de Raul Ferrão, e «Bicho de conta», com a música do «Fado Britinho», de Frederico de Brito.

Encontro - 1973


01 - Povo que Lavas no Rio (Pedro Homem de Mello/Joaquim Campos)
02 - Solidão (Brito/Trindade/Ferreira)
03 - Estranha Forma de Vida (Amália Rodrigues/Alfredo Duarte "Marceneiro"
04 - Libertação (David Mourão-Ferreira/Santos Moreira)
05 - Cansaço (Fado Tango) (Luís Macedo/Joaquim Campos)
06 - Rua do Capelão (Frederico de Freitas/João Alves Coelho)
07 - Ai Mouraria (Amadeu do Vale/Frederico Valério)
08 - Não é Desgraça ser Pobre (Norberto Araújo/José Alfredo Santos Moreira)
09 - Coimbra (José Galhardo/Raúl Ferrão)
10 - Lisboa Antiga (José Galhardo/Raul Portela)
11 - Há Festa na Mouraria (António Amargo/Alfredo Duarte "Marceneiro"
12 - Maldição (Armando Vieira Pinto/Alfredo Duarte "Marceneiro"

domingo, 23 de novembro de 2008

O melhor do Fado

Dos muitos Fados deste excelente Cd destacam-se:

Rosa enjeitada - Maria Teresa de Noronha

José Galhardo / Raul Ferrão
A Tendinha - Hermínia Silva
José Galhardo / Raul Ferrão

01. Senhora Mouraria
02. Menina do Rés-do-Chão
03. Canção de Lisboa
04. Chico do Cachiné
05. Campino de Portugal
06. Sou do Povo
07. Evocação
08. A Vida
09. Ciganita
10. Guitarras de Lisboa
11. Velho Friagem
12. Destino Marcado

Coro da Assembleia da República canta Raúl Ferrão


boas vindas aos Reis da Suécia e da Noruega

Por ocasião da Visita de Suas Majestades os Reis da Suécia (05 de Maio) e da Noruega (27 de Maio), o Coro da Assembleia da República actuou no Salão Nobre.

No dia 5 de Maio o coro cantou: Não tragais Borzeguis Pretos [Anónimo], Salvaterra [Anónimo], Cantiga Raiana, harmonia de Mário Sampaio Ribeiro.

No dia 27 de Maio interpretou duas peças: Coimbra, de José Galhardo e Raul Ferrão e a Queda do Império de Vitorino.

Maria Papoila


"Maria Papoila" estreia a 15 de Agosto de 1937 no cinema S. Luiz

A história de uma pastora beirã, Maria Papoila que vem para servir em Lisboa. Um dia conhece um rapaz rico, Eduardo que ela julga ser pobre devido ao seu uniforme de soldado raso. Um dia após um roubo, Eduardo é preso e abandonado pela sua noiva, Margarida, é então que Maria Papoila sacrificando a sua honra, apresenta-se em tribunal para defender aquele que a abandonara.

Intérpretes

Mirita Casimiro - Maria Papoila

António Silva - Mr. Scott

Eduardo Fernandes - Eduardo da Silveira

Maria Cristina - Margarida

Alves da Costa - Carlos

Emília de Oliveira - D. Efigénia

Joaquim Pinheiro - Soldado 27

Virgínia Soler - Elvira, a cozinheira da pensão

Amélia Pereira - D. Casimira

António Gomes - Pai de Margarida

Perpétua dos Santos - Tia Joaquina

Barroso Lopes - Animador do Casino do Estoril

e ainda: Armando Machado, Vital dos Santos; Eugénio Salvador; Estevão Amarante; Regina Montenegro; Henrique de Albuquerque...

Realização - Leitão de Barros

Produção - Lumiar Filmes

Argumento - Vasco Santana, José Galhardo e Alberto Barbosa

Fotografia - Isy Goldberger, Manuel Luís Vieira e Octávio Bobone

Música - Raul Portela, Raul Ferrão e Fernando de Carvalho

Duração aproximada: 98 mn. P/B Ano de produção: 1937

Fado a 24 imagens por segundo


Depois ter ter vestido a pele de Alice no musical infantil “Alice no País das Maravilhas” e de Liesl (a filha mais velho do Capitão Von Trapp) em “A Música no Coração”, ambos encenados por Filipe La Féria no Teatro Politeama, Cátia Garcia dá agora inicio a um novo espectáculo que homenageia a ligação do fado e do cinema.

Apesar de diluída no tempo e num pequeno número de obras, a ligação entre o fado e o cinema português (e algum internacional) é de grande importância, tendo tido como resultado algumas das obras mais marcantes do cinema português como é o caso de “Severa”, “A Canção de Lisboa”, “Capas Negras” ou “Verdes Anos”. É essa ligação que Cátia Garcia estabelece neste espectáculo que percorre os tempos, os filmes, os actores, os compositores, os fadistas e os realizadores unidos pelo cinema e pelo fado. Amália Rodrigues e Hermínia Silva são alguns dos grandes nomes do fado citados ao lado dos actores Vasco Santana, Beatriz Costa ou António Silva, dos realizadores Cottinelli Telmo, Leitão de Barros ou Paulo Rocha, dos compositores e letristas Alfredo Marceneiro, Frederico Valério, Alberto Janes, Carlos Paredes, Raul Ferrão, Sérgio Godinho, Pedro Ayres de Magalhães ou Rodrigo Leão, e até mesmo do toureiro Diamantino Viseu. Uma viagem através do cinema e do fado nesta nossa estranha forma de ser…

01a ROBERTA L. NADDEO / P. LEPORE
01b AMORE SCUSAMI G. MESCOLI / V. PALLAVICINI
02a O SOLE MIO E. DI CAPUA / G.CAPURRO / A. MAZZUCCHI
02b TORNA A SURRIENTO ERNESTO DE CURTIS / RITCHIE GREIG MC / ROGER WAGNER
03a SOMEWHERE MY LOVE PAUL FRANCIS WEBSTER / MAURICE JARRE
03b ARRIVEDERCI ROMA RASCEL / P. GARINEI / SANDRO GIOVANNINI
04a LES FEUILLES MORTES JOSEPH KOSMA / JACQUES PREVERT
04b SMILE CHARLES CHAPLIN / GEOFREY PARSONS / JOHN TURNER
05a CERESIER ROSE ET POMMIER BLANC P. LOUIGUY / J. LARUE
05b CACHITO CONSUELO VELASQUEZ
06 FASCINATION FERMO DANTE MARCHETTI / M. DE FERAUDY
07 AQUELLOS OJOS VERDES NILO MENENDEZ / ADOLFO UTRERA
08 MY HEART WILL GO ON JAMES HORNER / WILL JENNINGS
09a SABOR A MI ALVARO CARRILLO
09b CONTIGO EN LA DISTANCIA CESAR PORTILLO DE LA LUZ
10 TEQUILA CHUCK RIO
11 EU NUNCA MAIS VOU TE ESQUECER MOACYR FRANCO
12a A VECES TU, A VECES YO JULIO IGLESIAS / CECILIA
12b MANUELA M. ALEJANDRO / A MAGDALENA
13 WHITE CHRISTMAS IRVING BERLIN
14a AI MOURARIA FREDERICO VALERIO / A DO VALE
14b COIMBRA RAUL FERRÃO / JOSÉ GALHARDO

La Serena - Teresa Salgueiro e Lusitânia Ensemble interpretam músicas de Raúl Ferrão

1. La Serena (Tradicional em Landino Cancioneiro Sefardita)
2. Velha Tendinha (Raul Ferrão)
3. O Namoro (Viriato Cruz/Fausto)
4. Leãozinho (Caetano Veloso)
5. Vuelvo Al Sur (Fernando E.Solaman/Astor Piazzola)
6. La Vie En Rose (Edith Piaff/Louis Guglielmi)
7. Lá Vai Lisboa (Raul Ferrão) - instrumental
8. Nome de Rua (David Mourão Ferreira/Alan Oulmain)
9. Amanhã (Raul Indipwo/Milo Macmahon)
10. Se Fossem Iguais a Você (Vinicius de Moraes/Ant. Carlos Jobim)
11. Caruso (Lúcio Dalla)
12. Paloma Negra (José Alfredo Ménez/Tomás Méndez Sosa)
13. Velha Infância (Arnaldo Antunes/Carlinhos Brown/Marisa Monte)
14. Mar Azul (Cesária Évora/B'leza)
15. Estranha Forma de Vida (Amália Rodrigues/Alfredo Duarte)
16. A Casa da Mariquinhas (Alberto Janes) - instrumental
17. Avec le Temps (Léo Ferré)
18. Unforgettable (Irving Gordon)
19. Somewhere Over The Rainbow (Harold Arlen) - instrumental

Amália - O Teatro e o Cinema

01 - Maria da Cruz (Amadeu do Vale/Frederico Valério)
02 - Boa Nova
03 - Fado do Ciúme (Amadeu do Vale/Frederico Valério)
04 - Marcha da Mouraria (Marcha de Lisboa)
05 - Que Deus me Perdoe (Sousa Tavares/Frederico Valério)
06 - Confesso (Frederico Valério)
07 - Ai Lisboa
08 - Não sei Porque te Foste Embora (José Galhardo/Frederico Valério)
09 - Fado, não Sei quem És
10 - Fado da Saudade
11 - És Tudo para Mim
12 - Alamares (Linhares Barbosa/Jaime Santos)
13 - Zanguei-me com o Meu Amor
14 - Fado Eugénia Câmara (Pereira Coelho/Raul Ferrão)
15 - Barco Negro (David Mourão-Ferreira/Caco Velho/Piratini)
16 - Canção do Mar (Solidão) (Ferrer Trindade/Frederico de Brito)
17 - Amor, sou Tua
18 - Fado Corrido (Linhares Barbosa/Santos Moreira)
19 - Cantiga da Boa Gente (Tarde, Tardezinha)
20 - Le Premier Jour du Monde

Amália - O Foclore das Marcas

01 - Lírio Roxo (popular)
02 - Malhão de Águeda (popular)
03 - Tirana (popular)
04 - Senhora do Livramento (popular)
05 - Rosa Tirana (popular)
06 - Mané Chiné (popular)
07 - Quando eu era Pequenina (popular)
08 - Nós Atrás das Moças (popular)
09 - Fadinho da ti Maria Benta (popular)
10 - Malhão de S. Simão (popular)
11 - Valentim (popular)
12 - Malhão de Cinfães (popular)
13 - Caracóis (popular)
14 - Rosinha da Serra d'Arga (popular)
15 - Lisboa não sejas Francesa (Marcha de Lisboa)
16 - Cheira a Lisboa (Marcha de Lisboa)
17 - Lisboa dos Milagres (Marcha de Lisboa)
18 - Marcha da Mouraria (Marcha de Lisboa)
19 - Lá Vai Lisboa (Marcha de Lisboa)
20 - Macha de Alfama (Marcha de Lisboa)
21 - Só Lisboa (Marcha de Lisboa)
22 - Marcha de Benfica - Nº 1 (Marcha de Lisboa)
23 - Marcha de S. Vicente (Marcha de Lisboa)
24 - Noite de Santo António (Marcha de Lisboa)

Amália - Mais os Poetas Populares

01 - Estranha Forma de Vida (Amália/Alfredo Duarte "Marceneiro")
02 - Corria Atrás das Cantigas (Mouraria) (Amália/Música do "Fado Mouraria")
03 - Ai Esta Pena de Mim (Amália/José António Sabrosa)
04 - Lavava no Rio, Lavava
05 - Fui ao Mar Buscar Sardinhas
06 - Morrinha (Amália/Carlos Gonçalves)
07 - Lágrima (Amália/Carlos Gonçalves)
08 - Nao é Desgraça ser Pobre (Norberto Araújo/Santos Moreira)
09 - Dá-me o Braço Anda Daí (Linhares Barbosa/José Blanc)
10 - Lá Porque Tens Cinco Pedras (Linhares Barbosa/Música do "Fado Corrido")
11 - Os meus Olhos são Dois Círios (Linhares Barbosa/Música do "Fado Menor")
12 - Fado das Tamanquinhas (Linhares Barbosa/Carlos Neves)
13 - Carmencita (José António da Silva/Frederico de Brito)
14 - Antigamente (Joaquim Proença/Frederico de Brito)
15 - Fado Xu Xu (Fado Carioca) (Amadeu do Vale/Frederico Valério)
16 - Fui ao Baile (Amadeu do Vale/Fernando de Carvalho)
17 - A Tendinha (José Galhardo/Raul Ferrão)
18 - Maldição (Armando Vieira Pinto/Joaquim Campos)
19 - Eu Queria Cantar-te um Fado
20 - Nem às Paredes Confesso (Artur Ribeiro/Max/Ferrer Trindade)
21 - Meu Nome Sabe-me a Areia

Os Compositores - Amália 50 Anos


01 - Lisboa Antiga (José Galhardo/Amadeu do Vale/Raul Portela)
02 - Coimbra (José Galhardo/Raul Ferrão)
03 - O Cochicho (L. Ferreira/L. Rodrigues/F. Santos/Raul Ferrão)
04 - Há Festa na Mouraria (António Amargo/Alfredo Duarte "Marceneiro")
05 - Grão de Arroz (José Belo Marques)
06 - Rua do Capelão (Frederico de Freitas/João Alves Coelho)
07 - Timpanas (Júlio Dantas/Frederico de Freitas)
08 - Foi Deus (Alberto Janes)
09 - Vou Dar de Beber à Dor (Alberto Janes)
10 - Oiça lá ó Senhor Vinho (Alberto Janes)
11 - É ou não é? (Alberto Janes)
12 - A Júlia Florista
13 -Ai Mouraria (Amadeu do Vale/Frederico Valério)
14 - Fado Malhoa (José Galhardo/Frederico Valério)
15 - Só à Noitinha (Saudades de Ti) (Amadeu do Vale/Raul Ferrão/ Frederico Valério)
16 - Ai Chico, Chico
17 - Tudo Isto é Fado (Aníbal Nazaré/Fernando de Carvalho)
18 - Cuidei que Tinha Morrido (Pedro Homem de Mello/Alain Oulman)
18 - Maria Lisboa (David Mourão-Ferreira/Alain Oulman)
20 - Asas Fechadas
21 - Fandangueiro
22 - Meia-Noite e uma Guitarra (Álvaro Duarte Simões)
23 - Balada do Sino
24 - Grândola Vila Morena (José Afonso)

Passou na RTP Memória...

LISBOA NA MÚSICA DE RAÚL FERRÃO

Apresentado por Gomes Ferreira, trata-se de um programa sobre música portuguesa da autoria de Raul Ferrão, interpretada por vários cantores portugueses como: António Calvário, Artur Garcia, Maria da Fé, Simone de Oliveira e Nicolau Breyner, entre outros.
Neste programa poderá também apreciar as belas vistas e aspectos da cidade de Lisboa, especialmente os Bairros Populares.
Ficha Técnica:

Autoria: Raul Ferrão

Realização: Ruy Ferrão

Com: Apresentação de Gomes Ferreira



Gravação ao vivo, do Espectáculo realizado no Bobino, Paris, em 22 de Fevereiro de 1960.

1. Lua, luar
Rui Machado
2. Calunga
Lourenço Barbosa Capiba
3. Quem o Fado calunia
Aníbal Nazaré / Raul Ferrão
4. Fado gingão
Lamberto Brás / Egas Trindade
5. Fado da Madragoa
João Bastos / Frederico Valério
6. Olé, mi morena
Lascano Lopez de Vadillo / Rodriguez C. Eduardo
7. Barco Negro
Caco Vellho / Piratini; Versão de David Mourão-Ferreira
8. Guitarra triste
Álvaro Duarte Simões
9. Uma casa portuguesa
Reinaldo Ferreira; Gustavo Matos Sequeira / Artur Santos Fonseca
10. Lerele
G. Monreal Lacosta / F. Muñoz Acosta
11. Aïe, Mourir pour toi
Charles Aznavour / Albert Abraam Lasry
12. Coimbra
José Galhardo / Raul Ferrão
13. Trepa no coqueiro
Ary Castro
14. Lisboa antiga
José Galhardo; Amadeu do Vale / Raul Portela
15. Don Triqui Traque
Retanay / Lagaza

Acompanhamento musical:
Guitarra portuguesa: Domingos Camarinha
Guitarra clássica: Santos Moreira

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Painel da Velha Tendinha...

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Lisboa não sejas Francesa

Não namores os franceses

Menina Lisboa

Portugal é meigo às vezes

Mas certas coisas não perdoa

Vê-te bem no espelho

Desse honrado velho

Que o seu belo exemplo atrai

Vei segue o seu leal conselho

Não dês desgostos ao teu pai.

Lisboa não sejas francesa

Com toda a certeza não vais ser feliz

Lisboa que ideia daninha

Vaidosa alfacinha

Casar com paris

Lisboa tens cá namorados

Que dizem coitados

Com as almas na voz

Lisboa não sejas francesa

Tu és Portuguesa

Tu és só pra nós.

Tens amor às lindas fardas

Menina Lisboa

Vê lá bem pra quem te guardas

Donzela sem recato enjoa

Tens ai tenentes

Bravos e valentes

Nados e criados cá

Vá tenha modos mais decentes

Menina caprichosa e má.


MALDITO FADO

Ele era um bom rapaz trabalhador
Um operário leal cumprindo bem
Vinte anos de ilusão brotando em flor
E uma eterna afeição por sua mãe

Mas um dia fatal os companheiros
Levaram-no a uma taberna onde parava
A malta de vadios desordeiros
Dos quais um à guitarra assim cantava

ESTRIBILHO
Um fadinho a soluçar
Faz de nós afugentar
A ideia da própria morte
Mata a dor mata a tristeza
O fado é bendita reza
Dos desgraçados sem sorte
Tem tal choro e mágoa tanta
Quando canta na garganta
De quem canta amargurado
Que o refúgio preferido
Para quem viver dolorido
Está na doçura do fado

Esta triste canção foi mau agoiro
Que a vida lhe viesse transtornar
Tomou gosto à taberna ao matadoiro
E em breve até deixou de trabalhar

Uma ideia tenaz e doentia
Trazia-lhe a cabeça transtornada
Chorar fazia a mãe quando o via
Já ébrio ao regressar de madrugada

Deixando a mãe sem forças para lutar
Vendo a fome do seu lar não se importou
E um dia sem razão sem vacilar
Abriu uma navalha e a assassinou

Para onde se vai sem mais voltar
Condenado ao degredo ele partiu
E quando a mãe tombava sobre o cais
Ao longe a voz dele ainda se ouvia

ESTRIBILHO

Mar Impossível - Luis De Macedo e Raul Ferrão (Fado Carriche)

Na neve mais pura escrevo
As saudades do meu mar:
Tenho saudades da areia
Branca de neve ao luar
Tenho saudades da areia
Branca de neve ao luar

Tenho saudades do vento
Que sopra breve, indeciso
Leve como um pensamento
Do céu azul, calmo e liso.
Leve como um pensamento
Do céu azul, calmo e liso.

Tenho saudades das ondas
Das conchas e das sereias.
Aqui as ondas são poucas
E vivem paredes meias
Aqui as ondas são poucas
E vivem paredes meias.

No coração com a saudade
De não ver o mar sem fim
(Quando não posso cantar
Tenho saudades de mim)
(Quando não posso cantar
Tenho saudades de mim)

Fado Lisboa - Raúl Ferrão / Álvaro Leal

Lisboa casta princesa
Que o manto da realeza
Abres com pejo
No casto beijo.

Lisboa tão linda és
Que tens de rasto aos pés
A magestade
Do Tejo.

Lisbos das Descobertas
De tantas terras desertas
Que deram brado
No seu passado.

De Lisboa tens a coroa
Velha Lisboa da Madragoa
Quantos heróis
Tens criado.

Sete colinas tem teu colo de cetim
Onde as casas são boninas
Espalhadas em jardim.

E no teu seio, certo diz que foi gerado
E cantado pelo povo
Sonhador o nosso fado.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

MARCHA DA MADRAGOA

Letra de Frederico de Brito
Música de Raúl Ferrão

“Hoje é que a marcha vai / Que a Madragoa é linda / Vai de chinela vai / Pois é varina ainda.
Leva um arco e um balão, / Perna ao léu, e toca a andar, / É que a Madragoa / Corre Lisboa / Sempre a cantar.
Uma varina tem / Um riso bom que alastra; / Se uma tristeza vem, / Cabe-lhe na canastra. Arraiais de São João, / Quem os tem para nos dar ? / Só este bairro infindo /Que é o mais lindo / Da beira mar.
Andam balões no ar, / Quem é que não alcança / A espr’ança de os achar, / Aqui na velha Espr’ança.
Dê a volta pelas Madres, / P’lo Castelo do Picão, / Vanha bailar com ela, / À luz da vela / Do meu balão.
E se quiser cantar / O vira das varinas, / Já não precisa andar / Cantando pelas esquinas;
Vai pedir ao Guarda-Mor / Que lhe guarde uma qualquer, / Que lhe guarde uma qualquer, / Que tenha nos olhitos, / Os mais bonitos / Balões que houver.
(refrão)
Cabe toda a Lisboa / Na Madragoa / Que é pequenina; / E a Madragoa calma / Cabe na alma duma varina.
Sem que ninguém a gabe, / Tem não sei quê no jeito. / Só o meu bairro sabe, / Como ela cabe / Dentro do peito.
Colo da ave marinha / Olhos de tentação, / Sempre tão maneirinha / Cabe inteirinha / Num coração.

MARCHA DE BENFICA (1935)

Letra de Norberto de Araújo
Música de Raúl Ferrão

“Eh raparigas / Isto agora é andarmos p’ra frente / Saltam cantigas aos molhos / Um riso nos olhos / E coração quente.
Cá vai Benfica / E quem fica não vai concerteza / Ser alegre é que é preciso / Pois quem tem o riso /Tem sempre beleza.
(Refrão)
Olha a marcha de Benfica / Qual saloia cantadeira / Que entra na festa contente / Ai, ninguém fica sem cantar / a vida inteira / A linda marcha da nossa gente.
Hája alegria / Alegria é um bem que se abraça / Um desejo uma quimera / Por isso se espera / A marcha que passa.
Cá vai Benfica / Toda alegre e contente p’ra dançar / Há sempre um sorriso suspenso / Um tesouro imenso / Que nos vem da herança.

MARCHA DO BAIRRO DA AJUDA


Letra de Raúl Ferrão
Música de Raúl Ferrão
(Chitas)


“Ajuda bairro modesto / Mora na parte mais alta / Dava da grandeza o gesto / Se tivesse o resto / Que ainda lhe falta / Se um dia a sorte muda / Adeus brilhante passado / Nem há esperança que o iluda / Se o bairro da Ajuda / Não fôr ajudado.
Não faz bem quem se demora / Nem quem vai cedo demais / Sei que vais à Boa-Hora / Mas vê agora / A que horas vais / Passas ao páteo das Damas / E p’las Damas perguntas / Elas sabem que as não amas / Se por uma chama, vêm todas juntas. Quem passar pelo Cruzeiro / E cruzar com os olhos teus / Acautele-se primeiro / Que há jogo matreiro / Nesses dois judeus / Quando vou p’lo miradouro / Ponho-me a mirar a rua / Não há por meu desdouro / Para meu namoro cara como a tua.
(Refrão)
Ajuda é sempre bairro da alegria / Que a luz dia primeiro beija / Aonde a mocidade a golpes de vontade / Defende aquela graça que o bafeja / Conservar uma beleza primitiva / É tão altiva que em nada muda / Seu nome anda a mostrar / Que é mau quem se gabar / Que nunca precisou ter uma ajuda “.

SINFONIA DE LISBOA


Música de RAÚL FERRÃO
Versos de NORBERTO DE ARAÚJO


“Lisboa é sempre/Namoradeira,/Tantos derriços/Que até fazem já fileira. Não digas sim, /Não me digas não; /Amar é destino, /Cantar é condãoUma cantiga, /Uma aguarela, /Um cravo aberto /Debruçado da janela /Debruçado da janela. /Lisboa linda, / Do meu bairro antigo, /Dá-me o teu bracinho, /Vem bailar comigo.

(Estribilho – refrão)

Lisboa nasceu / Pertinho do céu /Toda embalada na fé. /Lavou-se no rio, /Ai, ai, ai, menina /Foi baptizada na Sé. Já se fez mulher / E hoje o que ela quer / É trovar e dar ao pé. / Anda em desvario / Ai. Ai. Ai, menina / Mas que linda que ela é ! Ó noite de Santa António ! Ó Lisboa de encantar ! / De alcachofras a florir / De foguetes a estoirar./ Enquanto os bairros cantarem, / Enquanto houver arraiais, / Enquanto houver Santo António / Lisboa não morre mais. Toda a cidade flutua / No mar da minha canção / Passeiam na rua / Retalhos da lua / Que caem do meu balão. / Deixem Lisboa folgar, / Não há mal que me arrefeça, / A rir, a cantar, / Cabeça no ar, / Eu hoje perco a cabeça.

Noite de Santo António (1950)



Cantado e gravado por Amália

Versos de: Norberto de Araújo
Música de: Raul Ferrão


Cá vai a marcha,
Mais o meu par,
Se o não trouxesse
Quem o havia de aturar.
Não digas sim, Não digas não,
Negócios de amor
São sempre o que são.
Já não há praça
Dos bailaricos
Tronos de luz,
Um altar de manjericos.
Mas sem a Praça
Que foi da Figueira.
A gente cá vai
Quer queira ou não queira.
Ó noite de Santo António!
Ó Lisboa de encantar!
De alcachofras a florir,
De foguetes a estoirar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais,
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Coimbra/Avril au Portugal

A canção «Coimbra» é um belíssimo tema de Raul Ferrão (música) e José Galhardo (letra) interpretado por alguns fadistas portugueses.
Amália cantava-a nos seus espectáculos e, certo dia, interpretou-a para a cantora francesa Yvette Giraud, que pegou no tema e para ele pediu uma nova letra, em francês, a Jacques Larue, transformando-a assim em «Avril au Portugal». Depois, toda a gente começou a gravar a canção (em português, francês, inglês, italiano...)... e é de algumas (24) dessas inúmeras versões gravadas ao longo dos últimos cinquenta anos que é feita a colectânea «Coimbra»...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fado do Estudante

"FADO DO ESTUDANTE"

Que negra sina ver-me assim
Que sorte e vil degradante
Ai que saudades eu sinto em mim
Do meu viver de estudante

Nesse fugaz tempo de Amor
Que de um rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador das raparigas
De capa ao ar cabeça ao léu
Sem me ralar vivia eu
A vadiar e tudo mais eram cantigas

Nenhuma delas me prendeu
Deixa-las eu era canja
Até ao dia que apareceu
Essa traidora de franja

Sempre a tinir sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão
Botas a rir num bengalão e ar descarado
A malandrar com outros tais
E a dançar para os arraiais
Para namorar beber, folgar cantar o fado

Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da faculdade
E a mesa da anatomia

Invoco em mim recordações
Que não têm fim dessas lições
Frente ao jardim do velho campo de Santana
Aulas que eu dava se eu estudasse
Onde ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana

O Fado é toda a minha fé
Embala, encanta e inebria
Dá gosto à gente ouvi-lo até
Na radio - telefonia

Quando é cantado com calor
Bem atirado e a rigor
É belo o Fado, ninguém há que lhe resista
É a canção mais popular, tem emoção faz-nos vibrar
Eis a razão de ser Doutor e ser Fadista

Capa do Musical "A Canção de Lisboa"

O Balãozinho

"OLHÓ BALÃO"

Olha o balão, na noite de São João
Para poder dançar bastante com quem tenho à minha espera
Ó-i-ó-ai, pedi licença ao meu Pai, e corri com o meu estudante
Que ficou como uma fera

Ó-i-ó-ai, fui comprar um manjerico
Ó-i-ó-ai, vou daqui pró bailarico
E tenho um gaiato aqui dependurado,
Que é mesmo o retrato do meu namorado

E tenho um gaiato aqui dependurado,
Que é mesmo o retrato do meu namorado

Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó

Olha o balão, na noite de São João,
Para não andar maçado da pequena me livrei
Ó-i-ó-ai, não sei com quem ela vai, cá para mim estou governado
Com uma outra que eu cá sei

Ó-i-ó-ai, fui comprar um manjerico
Ó-i-ó-ai, vou daqui pró bailarico

Tenho uma gaiata aqui dependurada
Que tem mesmo a lata, lá da namorada

Tenho uma gaiata aqui dependurada
Que tem mesmo a lata, lá da namorada

Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó

Lá vai Lisboa...

Ai de corações ao alto nasce a lua
E a marcha segue contente
As pedrinhas de basalto cá da rua
Nem sentem passar a gente
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa
Que vai a Alfama passar!

Lá vai Lisboa com a saia cor de mar
Cada bairro é um noivo que com ela vai casar!
Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão,
Com cantiguinhas na boca e amor no coração!

Bairro novo, bairro velho, gente boa
Em casa não há quem fique!
Vai na marcha todo o povo de Lisboa,
Da Graça a Campo d´Ourique!
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa!
Que vai a Alfama passar!

António Silva e Beatriz Costa cantam Raúl Ferrão

"A AGULHA E O DEDAL"

Vem cá minha agulha, tão meiga e tão fina
Beijar os teus lábios de açucar pilé
Então não me apanhas, sou esperta e ladina
E mais retorcida, que as de croché

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha
Ó bela vem cozer o avental...
- 1ª - Ó paizinho, eu bem te disse que esta do "a" que não dava
- "a"
- Mas isso é o paizinho que tem um vozeirão.

... do amor

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha, oh não...
És a mais bela fresca agulha em Portugal

Bem sei que não me amas, por não ser de prata
E que me desprezas por ser só de cobre
Então tu não chores, bem sei que és de lata
Também eu passajo na fralda do pobre

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha
Ó bela vem cozer o avental...

- 2ª - Ai paizinho que esta agora ainda foi pior
- Ó filha deixa lá o avental e continua

... do amor

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha, oh não...
És a mais bela fresca agulha em Portugal

O Fado e suas Categorizações

O Fado é um estilo musical português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa.

Categorizações:
  • Fado Alcântara
  • Fado Aristocrata
  • Fado Bailado
  • Fado Batê
  • Fado-Canção
  • Fado Castiço
  • Fado Corrido
  • Fado Experimental
  • Fado Lopes
  • Fado Marcha Alfredo Marceneiro
  • Fado da Meia-noite
  • Fado Menor
  • Fado Mouraria
  • Fado Pintadinho
  • Fado Tango
  • Fado Tamanquinhas
  • Fado Vadio
  • Rapsódia de Fados

O Século Ilustrado - 1946

Maria Severa

Num beco da Mouraria
Onde a alegria do Sol não vem
Morreu Maria Severa
Sabem quem era? ... talvez ninguém

Uma vos sentida e quente
Que hoje á terra disse adeus
Voz saudosa, voz ausente
Mas que vive eternamente
Dentro em nós, e junto a Deus
Além nos céus

Bem longe onde o luar e o azul tem mais luz
Eu vejo-a rezar aos pés duma cruz
Guitarras trinai, viradas p'ro céu
Fadistas chorai porque ela morreu

Caíu a noite na viela
Quando o olhar dela deixou de olhar
Ficou p´ra sempre vencida
Deixando a vida, que a fez sonhar

Deixa um filho idolatrado
Que outro afecto assim, não tem
Chama-se ele “o triste fado”
Que vai ser desenjeitado
Pois perdeu o maior bem
O amor de mãe

Campino

Mal canta o galo,
Ainda o sol não é nada,
Monto a cavalo
E vou p'ra junto do gado.
E os animais,
Essas tais feras bravias,
Com os seus olhos leais,
Parecem dar-me os bons dias.
Pampilho ao alto,
Corpo firme no selim;
Nunca tive um sobressalto
Se um toiro investe p'ra mim.
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".
Quando anoitece
E o gado dorme p'lo chão,
Rezo uma prece
Por alma dos que lá estão.
P'ra que as searas
Cresçam livres de tormenta
E o mal não mate as peares
Nem os novilhos de temp'ra.
Mas quando as cheias
Destroçam pastos e trigo
E há miséria nas aldeias,
Eu vou cantando comigo:
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Aldeia da Roupa Branca é um filme Português de 1938, realizado por Chianca de Garcia, e com os actores Aida Ultz, Armando Chagas, Armando Machado, Aurora Celeste, Baltasar de Azevedo, Beatriz Costa, Carlos Alves, Elvira Vélez, Hermínia Silva, João Silva, Joaquim Manique, Jorge Gentil, José Amaro, Manuel Santos Carvalho, Maria Salomé, Mário Santos, Milú, Octávio de Matos, Óscar de Lemos e Sofia Santos. A música é de Raul Portela, Jaime Silva e Raul Ferrão.

Rosa Enjeitada

Sou essa rosa, caprichosa, sem ser má
Flor de alma pura e de ternura ao Deus dará
Que viu um dia, que sentia um grande amor
E de paixão o coração estalar de dor

Rosa enjeitada
Sem mãe sem pão sem ter nada
Que vida triste e chorada
O teu destino te deu
Rosa enjeitada
Rosa humilde e perfumada
Afinal desventurada quem és tu?
Rosa enjeitada
Uma mulher que sofreu

Tão pobrezinha que ainda tinha uma afeição
Alguém que amava e que sonhava uma ilusão
Mas esse alguém por outro bem se apaixonou
E assim fiquei sem ele que amei e me enjeitou

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Canção de Lisboa

Baseado no argumento de José Galhardo, Vasco Santana e Alberto Barbosa, com música dos geniais compositores Raul Ferrão e Raul Portela, La Féria estreou em 2005, no Teatro Politeama, "A Canção de Lisboa" com Anabela, que regressou ao Teatro depois do triunfo em "My Fair Lady", Miguel Dias, Sofia Duarte Silva, Nuno Guerreiro, a grande actriz Manuela Maria que, com Helena Rocha, interpretaram as austeras tias do Vasquinho, o estudante cabulão que em vez de se dedicar à medicina, prefere as raparigas e os arraiais.

O Melhor de Raúl Ferrão

Cinquenta anos após a sua morte, o disco com as melhores canções de Raul Ferrão propõe-nos, como dele escreve Baptista Bastos, «uma viagem ao passado, rejeitando qualquer forma de passadismo. É um documento muito belo (..) onde se resguardam as nossas emoções e as nossas memórias».
Contaminado por uma agradável modernidade «é espantoso como muitas destas melodias tenham resistido à erosão do tempo e às modulações das épocas.» Notável exemplo disso mesmo é Coimbra (ou "Avril au Portugal", como lhe chamou Jacques Larue), uma bela e deliciosa "lição de amor" imortalizada nas vozes de Alberto Ribeiro e Amália Rodrigues, mundialmente conhecida.

Não é, pois, «levianamente que Ferrão se tornou na menção paradigmática de uma certa forma de fazer música popular. Este CD pretende, antes de tudo, ser um objecto dessa memória. Com vozes maravilhosas, que possuem a química das intensas comunicações entre os homens», como são os casos de Beatriz Costa, Carlos Ramos, Maria Teresa de Noronha e Max, entre tantos outros.

Fado das Caldas

Até Fados para os mais aficcionados dos Toiros e dos Cavalos foram compostos por Raúl Ferrão

Calça justa bem 'sticada
Já manchada p'lo selim,
Polainas afiveladas.
Antigamente era assim;
Mantas de cor nas boleias (ai)
P´ras toiradas e pr'a ceias.


De milorde aguisalhada,
À cabeça da manada
Trote largo e para a frente,
Com os seus cavalos baios,
As pilecas eram raios
Fidalgos iam co'a gente.

E p'la ponte de Tornada
Por lá é que era o caminho
Bem conduzindo a manada
A passo, devagarinho,
E quem mandava o campino (ai)
Era o mestre Vitorino.


Praça cheia, toca o hino
É dos Gamas, gado matreiro
Victor Morais, o campino,
Anadia, o cavaleiro
Que sortes tão bem mandadas
Haviam nessas toiradas.

Nos tempos que não vivi
Findavam as brincadeiras
Nas barracas do Levi
Com dois tintos das Gaeiras
Entre cartazes, letreiros
Com toiros, cavaleiros

O Cochicho

Na noite de São João, que filão
Ninguém quer calar o bico
Com o cochicho na mão, pois então
E um vaso de manjerico
Passa marchó filambó, tro-lo-ló
Com archotes e balões
Entre apertões, aos encontrões
A dançar o solidó batem mais os corações!

Olha o cochicho que se farta d´apitar:
Ri pi pi pi pi pi pi!
E nunca mais desafina!
A rapaziada, quem é que quer assoprar
Ri pi pi pi pi pi pi!
No cochicho da menina?

Um papo-seco, leru, capiru
Por mal da dó, por capricho
Ao ver-me na rua só, o pató
Quis agarrar-me o cochicho
Mas quando um soco lambeu o judeu
Até gritou p´la mãe
E sem parar, pôs-se a cavar
O cochicho é muito meu!
Não o dou a mais ninguém!

Rául Ferrão e as Marchas Populares

«Lá vai Lisboa» (Norberto de Araújo/Raul Ferrão), foi a primeira Grande Marcha de Lisboa, de 1935, foi criada por Beatriz Costa e tem sido gravada por várias vozes, nomeadamente, Amália Rodrigues, Maria Clara, Ada de Castro e Alice Amaro, entre muitas outras.

Vai de corações ao alto nasce a lua
E a marcha segue contente
As pedrinhas de basalto cá da rua
Nem sentem passar a gente
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa
Que vai a Alfama passar!

Lá vai Lisboa com a saia cor de mar
Cada bairro é um noivo que com ela vai casar!
Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão,
Com cantiguinhas na boca e amor no coração!

Bairro novo, bairro velho, gente boa
Em casa não há quem fique!
Vai na marcha todo o povo de Lisboa,
Da Graça a Campo d´Ourique!
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa!
Que vai a Alfama passar!
A canção COIMBRA, da autoria musical de Raul Ferrão e literária de José Galhardo, serviu de mote a uma torrente de versões vocais e instrumentais:
Louis Armstrong / Amália Rodrigues / Bert Kaempfert / Eartha Kitt / Joe Quijano / Caetano Veloso / Xavier Cugat / Bobby Capo / Oscar Aleman / Bing Crosby / Yvette Giraud / Perez Prado / Lambeth Community Young Steel Orchestra / Ester de Abreu / Vic Damone / EnochLight / Chet Atkins / Lucho Gatica / Liberace / Tony Martin / Archie Bleyer / Alberto Ribeiro / Jacques Lannoy /


Coimbra é uma lição
De sonho e tradição

O lente é uma canção
E a Lua a faculdade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

Coimbra do choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal
Ainda

Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tão linda

Coimbra das canções
Tão meiga que nos pões
Os nossos corações a nu

Coimbra dos doutores
Pra nós os teus cantores
A Fonte dos Amores és tu

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a Lua a faculdade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

Um dos seus Fados mais conhecidos...

FADO DA TENDINHA

Junto ao Arco da Bandeira

Há uma loja “a Tendinha”

De aspecto rasca e banal;

Na história da bebedeira

Aquela casa velhinha

É um padrão imortal.

Refrão

Velha taberna,

Nesta Lisboa moderna,

É a tasca humilde, eterna

Que manténs a tradiçao;

Velha Tendinha,

És o templo da “pinguinha”,

Dos dois brancos, da gimbrinha,

Da boémia e do pifão.

Noutros tempos, os fadistas

Vinham já grossos das hortas,

P’ra o seu balcão caturrar;

Os fidalgos e os artistas

Iam p’r’ali horas mortas,

Ouvir o fado e cantar

Um pouco da sua vida...

Ninguém diria, mas o compositor de algumas das mais populares e conhecidas canções, fados e marchas de Lisboa era... militar de carreira! Raul Ferrão escreveu música para mais de uma centena de peças de teatro e revistas e ainda para alguns dos mais aclamados filmes portugueses.
A ele se devem êxitos como Cochicho, As Camélias, Burrié, Velha Tendinha, Rosa Enjeitada, Ribatejo, e ainda canções para os filmes A Canção de Lisboa, Maria Papoila, A Aldeia da Roupa Branca e A Varanda dos Rouxinóis; e escreveu ainda música para operetas como A Invasão, Ribatejo, Nazaré, Colete Encarnado ou Senhora da Atalaia.
Em 1907, com 17 anos de idade, ingressou na carreira militar. Foi professor da Escola de Guerra em 1917 e 1918, depois de ter cumprido comissões de serviço em África durante a I Guerra Mundial.
Ferrão, formado em engenharia química, começou a compor durante os anos vinte e chegou a ser representante da antecessora da Sociedade Portuguesa de Autores, a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, em congressos internacionais de direitos de autor.
Extraordinariamente produtivo como compositor (só na década de quarenta escreveu música para quase quarenta revistas!), as suas criações atravessaram gerações, e basta recordarmos duas das mais importantes: Lisboa Não Sejas Francesa, originalmente composta para a opereta A Invasão, e o eterno Coimbra, que, contudo, tem uma história curiosa.
De facto, a melodia de Coimbra existia desde 1939 sem que Ferrão conseguisse que lha aceitassem numa peça. A canção foi ficando na gaveta até que, finalmente, apareceu em 1947 no filme Capas Negras, onde foi criada por Alberto Ribeiro, ironicamente, sem grande sucesso. Só três anos mais tarde, quando Amália a interpreta numa digressão internacional, a canção se tornaria popular em todo o mundo, ficando conhecida no estrangeiro como Avríl au Portugal ou Apríl in Portugal... Ferrão ainda assistiu ao triunfo desta "canção enjeitada" antes de falecer em 1953. O realizador e produtor televisivo Ruy Ferrão, seu filho, encarregou-se de manter viva a sua memória.

Rául Ferrão


Início...

Como Bisneta do famoso Maestro e Compositor Raúl Ferrão decidi criar este Blog onde poderão reviver alguns fados compostos por ele e conhecer um pouco da sua vida...

Porque afinal as memórias não se apagam!