segunda-feira, 22 de setembro de 2008

MARCHA DA MADRAGOA

Letra de Frederico de Brito
Música de Raúl Ferrão

“Hoje é que a marcha vai / Que a Madragoa é linda / Vai de chinela vai / Pois é varina ainda.
Leva um arco e um balão, / Perna ao léu, e toca a andar, / É que a Madragoa / Corre Lisboa / Sempre a cantar.
Uma varina tem / Um riso bom que alastra; / Se uma tristeza vem, / Cabe-lhe na canastra. Arraiais de São João, / Quem os tem para nos dar ? / Só este bairro infindo /Que é o mais lindo / Da beira mar.
Andam balões no ar, / Quem é que não alcança / A espr’ança de os achar, / Aqui na velha Espr’ança.
Dê a volta pelas Madres, / P’lo Castelo do Picão, / Vanha bailar com ela, / À luz da vela / Do meu balão.
E se quiser cantar / O vira das varinas, / Já não precisa andar / Cantando pelas esquinas;
Vai pedir ao Guarda-Mor / Que lhe guarde uma qualquer, / Que lhe guarde uma qualquer, / Que tenha nos olhitos, / Os mais bonitos / Balões que houver.
(refrão)
Cabe toda a Lisboa / Na Madragoa / Que é pequenina; / E a Madragoa calma / Cabe na alma duma varina.
Sem que ninguém a gabe, / Tem não sei quê no jeito. / Só o meu bairro sabe, / Como ela cabe / Dentro do peito.
Colo da ave marinha / Olhos de tentação, / Sempre tão maneirinha / Cabe inteirinha / Num coração.

MARCHA DE BENFICA (1935)

Letra de Norberto de Araújo
Música de Raúl Ferrão

“Eh raparigas / Isto agora é andarmos p’ra frente / Saltam cantigas aos molhos / Um riso nos olhos / E coração quente.
Cá vai Benfica / E quem fica não vai concerteza / Ser alegre é que é preciso / Pois quem tem o riso /Tem sempre beleza.
(Refrão)
Olha a marcha de Benfica / Qual saloia cantadeira / Que entra na festa contente / Ai, ninguém fica sem cantar / a vida inteira / A linda marcha da nossa gente.
Hája alegria / Alegria é um bem que se abraça / Um desejo uma quimera / Por isso se espera / A marcha que passa.
Cá vai Benfica / Toda alegre e contente p’ra dançar / Há sempre um sorriso suspenso / Um tesouro imenso / Que nos vem da herança.

MARCHA DO BAIRRO DA AJUDA


Letra de Raúl Ferrão
Música de Raúl Ferrão
(Chitas)


“Ajuda bairro modesto / Mora na parte mais alta / Dava da grandeza o gesto / Se tivesse o resto / Que ainda lhe falta / Se um dia a sorte muda / Adeus brilhante passado / Nem há esperança que o iluda / Se o bairro da Ajuda / Não fôr ajudado.
Não faz bem quem se demora / Nem quem vai cedo demais / Sei que vais à Boa-Hora / Mas vê agora / A que horas vais / Passas ao páteo das Damas / E p’las Damas perguntas / Elas sabem que as não amas / Se por uma chama, vêm todas juntas. Quem passar pelo Cruzeiro / E cruzar com os olhos teus / Acautele-se primeiro / Que há jogo matreiro / Nesses dois judeus / Quando vou p’lo miradouro / Ponho-me a mirar a rua / Não há por meu desdouro / Para meu namoro cara como a tua.
(Refrão)
Ajuda é sempre bairro da alegria / Que a luz dia primeiro beija / Aonde a mocidade a golpes de vontade / Defende aquela graça que o bafeja / Conservar uma beleza primitiva / É tão altiva que em nada muda / Seu nome anda a mostrar / Que é mau quem se gabar / Que nunca precisou ter uma ajuda “.

SINFONIA DE LISBOA


Música de RAÚL FERRÃO
Versos de NORBERTO DE ARAÚJO


“Lisboa é sempre/Namoradeira,/Tantos derriços/Que até fazem já fileira. Não digas sim, /Não me digas não; /Amar é destino, /Cantar é condãoUma cantiga, /Uma aguarela, /Um cravo aberto /Debruçado da janela /Debruçado da janela. /Lisboa linda, / Do meu bairro antigo, /Dá-me o teu bracinho, /Vem bailar comigo.

(Estribilho – refrão)

Lisboa nasceu / Pertinho do céu /Toda embalada na fé. /Lavou-se no rio, /Ai, ai, ai, menina /Foi baptizada na Sé. Já se fez mulher / E hoje o que ela quer / É trovar e dar ao pé. / Anda em desvario / Ai. Ai. Ai, menina / Mas que linda que ela é ! Ó noite de Santa António ! Ó Lisboa de encantar ! / De alcachofras a florir / De foguetes a estoirar./ Enquanto os bairros cantarem, / Enquanto houver arraiais, / Enquanto houver Santo António / Lisboa não morre mais. Toda a cidade flutua / No mar da minha canção / Passeiam na rua / Retalhos da lua / Que caem do meu balão. / Deixem Lisboa folgar, / Não há mal que me arrefeça, / A rir, a cantar, / Cabeça no ar, / Eu hoje perco a cabeça.

Noite de Santo António (1950)



Cantado e gravado por Amália

Versos de: Norberto de Araújo
Música de: Raul Ferrão


Cá vai a marcha,
Mais o meu par,
Se o não trouxesse
Quem o havia de aturar.
Não digas sim, Não digas não,
Negócios de amor
São sempre o que são.
Já não há praça
Dos bailaricos
Tronos de luz,
Um altar de manjericos.
Mas sem a Praça
Que foi da Figueira.
A gente cá vai
Quer queira ou não queira.
Ó noite de Santo António!
Ó Lisboa de encantar!
De alcachofras a florir,
De foguetes a estoirar
Enquanto os bairros cantarem
Enquanto houver arraiais,
Enquanto houver Santo António
Lisboa não morre mais.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Coimbra/Avril au Portugal

A canção «Coimbra» é um belíssimo tema de Raul Ferrão (música) e José Galhardo (letra) interpretado por alguns fadistas portugueses.
Amália cantava-a nos seus espectáculos e, certo dia, interpretou-a para a cantora francesa Yvette Giraud, que pegou no tema e para ele pediu uma nova letra, em francês, a Jacques Larue, transformando-a assim em «Avril au Portugal». Depois, toda a gente começou a gravar a canção (em português, francês, inglês, italiano...)... e é de algumas (24) dessas inúmeras versões gravadas ao longo dos últimos cinquenta anos que é feita a colectânea «Coimbra»...

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Fado do Estudante

"FADO DO ESTUDANTE"

Que negra sina ver-me assim
Que sorte e vil degradante
Ai que saudades eu sinto em mim
Do meu viver de estudante

Nesse fugaz tempo de Amor
Que de um rapaz é o melhor
Era um audaz conquistador das raparigas
De capa ao ar cabeça ao léu
Sem me ralar vivia eu
A vadiar e tudo mais eram cantigas

Nenhuma delas me prendeu
Deixa-las eu era canja
Até ao dia que apareceu
Essa traidora de franja

Sempre a tinir sem um tostão
Batina a abrir por um rasgão
Botas a rir num bengalão e ar descarado
A malandrar com outros tais
E a dançar para os arraiais
Para namorar beber, folgar cantar o fado

Recordo agora com saudade
Os calhamaços que eu lia
Os professores da faculdade
E a mesa da anatomia

Invoco em mim recordações
Que não têm fim dessas lições
Frente ao jardim do velho campo de Santana
Aulas que eu dava se eu estudasse
Onde ainda estava nessa classe
A que eu faltava sete dias por semana

O Fado é toda a minha fé
Embala, encanta e inebria
Dá gosto à gente ouvi-lo até
Na radio - telefonia

Quando é cantado com calor
Bem atirado e a rigor
É belo o Fado, ninguém há que lhe resista
É a canção mais popular, tem emoção faz-nos vibrar
Eis a razão de ser Doutor e ser Fadista

Capa do Musical "A Canção de Lisboa"

O Balãozinho

"OLHÓ BALÃO"

Olha o balão, na noite de São João
Para poder dançar bastante com quem tenho à minha espera
Ó-i-ó-ai, pedi licença ao meu Pai, e corri com o meu estudante
Que ficou como uma fera

Ó-i-ó-ai, fui comprar um manjerico
Ó-i-ó-ai, vou daqui pró bailarico
E tenho um gaiato aqui dependurado,
Que é mesmo o retrato do meu namorado

E tenho um gaiato aqui dependurado,
Que é mesmo o retrato do meu namorado

Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó

Olha o balão, na noite de São João,
Para não andar maçado da pequena me livrei
Ó-i-ó-ai, não sei com quem ela vai, cá para mim estou governado
Com uma outra que eu cá sei

Ó-i-ó-ai, fui comprar um manjerico
Ó-i-ó-ai, vou daqui pró bailarico

Tenho uma gaiata aqui dependurada
Que tem mesmo a lata, lá da namorada

Tenho uma gaiata aqui dependurada
Que tem mesmo a lata, lá da namorada

Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó
Toca o fungagá, toca o Sol e Dó,
Vamos lá, nesta marcha a um fulambó

Lá vai Lisboa...

Ai de corações ao alto nasce a lua
E a marcha segue contente
As pedrinhas de basalto cá da rua
Nem sentem passar a gente
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa
Que vai a Alfama passar!

Lá vai Lisboa com a saia cor de mar
Cada bairro é um noivo que com ela vai casar!
Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão,
Com cantiguinhas na boca e amor no coração!

Bairro novo, bairro velho, gente boa
Em casa não há quem fique!
Vai na marcha todo o povo de Lisboa,
Da Graça a Campo d´Ourique!
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa!
Que vai a Alfama passar!

António Silva e Beatriz Costa cantam Raúl Ferrão

"A AGULHA E O DEDAL"

Vem cá minha agulha, tão meiga e tão fina
Beijar os teus lábios de açucar pilé
Então não me apanhas, sou esperta e ladina
E mais retorcida, que as de croché

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha
Ó bela vem cozer o avental...
- 1ª - Ó paizinho, eu bem te disse que esta do "a" que não dava
- "a"
- Mas isso é o paizinho que tem um vozeirão.

... do amor

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha, oh não...
És a mais bela fresca agulha em Portugal

Bem sei que não me amas, por não ser de prata
E que me desprezas por ser só de cobre
Então tu não chores, bem sei que és de lata
Também eu passajo na fralda do pobre

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha
Ó bela vem cozer o avental...

- 2ª - Ai paizinho que esta agora ainda foi pior
- Ó filha deixa lá o avental e continua

... do amor

Ai chega, chega, chega, chega ó minha agulha
Afasta, afasta, afasta, afasta ó meu dedal
Brejeira, não sejas trafulha, oh não...
És a mais bela fresca agulha em Portugal

O Fado e suas Categorizações

O Fado é um estilo musical português. Geralmente é cantado por uma só pessoa (fadista) e acompanhado por guitarra clássica (nos meios fadistas denominada viola) e guitarra portuguesa.

Categorizações:
  • Fado Alcântara
  • Fado Aristocrata
  • Fado Bailado
  • Fado Batê
  • Fado-Canção
  • Fado Castiço
  • Fado Corrido
  • Fado Experimental
  • Fado Lopes
  • Fado Marcha Alfredo Marceneiro
  • Fado da Meia-noite
  • Fado Menor
  • Fado Mouraria
  • Fado Pintadinho
  • Fado Tango
  • Fado Tamanquinhas
  • Fado Vadio
  • Rapsódia de Fados

O Século Ilustrado - 1946

Maria Severa

Num beco da Mouraria
Onde a alegria do Sol não vem
Morreu Maria Severa
Sabem quem era? ... talvez ninguém

Uma vos sentida e quente
Que hoje á terra disse adeus
Voz saudosa, voz ausente
Mas que vive eternamente
Dentro em nós, e junto a Deus
Além nos céus

Bem longe onde o luar e o azul tem mais luz
Eu vejo-a rezar aos pés duma cruz
Guitarras trinai, viradas p'ro céu
Fadistas chorai porque ela morreu

Caíu a noite na viela
Quando o olhar dela deixou de olhar
Ficou p´ra sempre vencida
Deixando a vida, que a fez sonhar

Deixa um filho idolatrado
Que outro afecto assim, não tem
Chama-se ele “o triste fado”
Que vai ser desenjeitado
Pois perdeu o maior bem
O amor de mãe

Campino

Mal canta o galo,
Ainda o sol não é nada,
Monto a cavalo
E vou p'ra junto do gado.
E os animais,
Essas tais feras bravias,
Com os seus olhos leais,
Parecem dar-me os bons dias.
Pampilho ao alto,
Corpo firme no selim;
Nunca tive um sobressalto
Se um toiro investe p'ra mim.
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".
Quando anoitece
E o gado dorme p'lo chão,
Rezo uma prece
Por alma dos que lá estão.
P'ra que as searas
Cresçam livres de tormenta
E o mal não mate as peares
Nem os novilhos de temp'ra.
Mas quando as cheias
Destroçam pastos e trigo
E há miséria nas aldeias,
Eu vou cantando comigo:
Já disse um homem
Que foi toureiro afamado:
"Mais marradas dá a fome
Do que um toiro tresmalhado".

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

A Aldeia da Roupa Branca é um filme Português de 1938, realizado por Chianca de Garcia, e com os actores Aida Ultz, Armando Chagas, Armando Machado, Aurora Celeste, Baltasar de Azevedo, Beatriz Costa, Carlos Alves, Elvira Vélez, Hermínia Silva, João Silva, Joaquim Manique, Jorge Gentil, José Amaro, Manuel Santos Carvalho, Maria Salomé, Mário Santos, Milú, Octávio de Matos, Óscar de Lemos e Sofia Santos. A música é de Raul Portela, Jaime Silva e Raul Ferrão.

Rosa Enjeitada

Sou essa rosa, caprichosa, sem ser má
Flor de alma pura e de ternura ao Deus dará
Que viu um dia, que sentia um grande amor
E de paixão o coração estalar de dor

Rosa enjeitada
Sem mãe sem pão sem ter nada
Que vida triste e chorada
O teu destino te deu
Rosa enjeitada
Rosa humilde e perfumada
Afinal desventurada quem és tu?
Rosa enjeitada
Uma mulher que sofreu

Tão pobrezinha que ainda tinha uma afeição
Alguém que amava e que sonhava uma ilusão
Mas esse alguém por outro bem se apaixonou
E assim fiquei sem ele que amei e me enjeitou

terça-feira, 16 de setembro de 2008

A Canção de Lisboa

Baseado no argumento de José Galhardo, Vasco Santana e Alberto Barbosa, com música dos geniais compositores Raul Ferrão e Raul Portela, La Féria estreou em 2005, no Teatro Politeama, "A Canção de Lisboa" com Anabela, que regressou ao Teatro depois do triunfo em "My Fair Lady", Miguel Dias, Sofia Duarte Silva, Nuno Guerreiro, a grande actriz Manuela Maria que, com Helena Rocha, interpretaram as austeras tias do Vasquinho, o estudante cabulão que em vez de se dedicar à medicina, prefere as raparigas e os arraiais.

O Melhor de Raúl Ferrão

Cinquenta anos após a sua morte, o disco com as melhores canções de Raul Ferrão propõe-nos, como dele escreve Baptista Bastos, «uma viagem ao passado, rejeitando qualquer forma de passadismo. É um documento muito belo (..) onde se resguardam as nossas emoções e as nossas memórias».
Contaminado por uma agradável modernidade «é espantoso como muitas destas melodias tenham resistido à erosão do tempo e às modulações das épocas.» Notável exemplo disso mesmo é Coimbra (ou "Avril au Portugal", como lhe chamou Jacques Larue), uma bela e deliciosa "lição de amor" imortalizada nas vozes de Alberto Ribeiro e Amália Rodrigues, mundialmente conhecida.

Não é, pois, «levianamente que Ferrão se tornou na menção paradigmática de uma certa forma de fazer música popular. Este CD pretende, antes de tudo, ser um objecto dessa memória. Com vozes maravilhosas, que possuem a química das intensas comunicações entre os homens», como são os casos de Beatriz Costa, Carlos Ramos, Maria Teresa de Noronha e Max, entre tantos outros.

Fado das Caldas

Até Fados para os mais aficcionados dos Toiros e dos Cavalos foram compostos por Raúl Ferrão

Calça justa bem 'sticada
Já manchada p'lo selim,
Polainas afiveladas.
Antigamente era assim;
Mantas de cor nas boleias (ai)
P´ras toiradas e pr'a ceias.


De milorde aguisalhada,
À cabeça da manada
Trote largo e para a frente,
Com os seus cavalos baios,
As pilecas eram raios
Fidalgos iam co'a gente.

E p'la ponte de Tornada
Por lá é que era o caminho
Bem conduzindo a manada
A passo, devagarinho,
E quem mandava o campino (ai)
Era o mestre Vitorino.


Praça cheia, toca o hino
É dos Gamas, gado matreiro
Victor Morais, o campino,
Anadia, o cavaleiro
Que sortes tão bem mandadas
Haviam nessas toiradas.

Nos tempos que não vivi
Findavam as brincadeiras
Nas barracas do Levi
Com dois tintos das Gaeiras
Entre cartazes, letreiros
Com toiros, cavaleiros

O Cochicho

Na noite de São João, que filão
Ninguém quer calar o bico
Com o cochicho na mão, pois então
E um vaso de manjerico
Passa marchó filambó, tro-lo-ló
Com archotes e balões
Entre apertões, aos encontrões
A dançar o solidó batem mais os corações!

Olha o cochicho que se farta d´apitar:
Ri pi pi pi pi pi pi!
E nunca mais desafina!
A rapaziada, quem é que quer assoprar
Ri pi pi pi pi pi pi!
No cochicho da menina?

Um papo-seco, leru, capiru
Por mal da dó, por capricho
Ao ver-me na rua só, o pató
Quis agarrar-me o cochicho
Mas quando um soco lambeu o judeu
Até gritou p´la mãe
E sem parar, pôs-se a cavar
O cochicho é muito meu!
Não o dou a mais ninguém!

Rául Ferrão e as Marchas Populares

«Lá vai Lisboa» (Norberto de Araújo/Raul Ferrão), foi a primeira Grande Marcha de Lisboa, de 1935, foi criada por Beatriz Costa e tem sido gravada por várias vozes, nomeadamente, Amália Rodrigues, Maria Clara, Ada de Castro e Alice Amaro, entre muitas outras.

Vai de corações ao alto nasce a lua
E a marcha segue contente
As pedrinhas de basalto cá da rua
Nem sentem passar a gente
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa
Que vai a Alfama passar!

Lá vai Lisboa com a saia cor de mar
Cada bairro é um noivo que com ela vai casar!
Lá vai Lisboa com seu arquinho e balão,
Com cantiguinhas na boca e amor no coração!

Bairro novo, bairro velho, gente boa
Em casa não há quem fique!
Vai na marcha todo o povo de Lisboa,
Da Graça a Campo d´Ourique!
Olha o castelo velhinho, que é coroa
Desta Lisboa sem par!
Abram, rapazes, caminho,
Que passar vai a Lisboa!
Que vai a Alfama passar!
A canção COIMBRA, da autoria musical de Raul Ferrão e literária de José Galhardo, serviu de mote a uma torrente de versões vocais e instrumentais:
Louis Armstrong / Amália Rodrigues / Bert Kaempfert / Eartha Kitt / Joe Quijano / Caetano Veloso / Xavier Cugat / Bobby Capo / Oscar Aleman / Bing Crosby / Yvette Giraud / Perez Prado / Lambeth Community Young Steel Orchestra / Ester de Abreu / Vic Damone / EnochLight / Chet Atkins / Lucho Gatica / Liberace / Tony Martin / Archie Bleyer / Alberto Ribeiro / Jacques Lannoy /


Coimbra é uma lição
De sonho e tradição

O lente é uma canção
E a Lua a faculdade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

Coimbra do choupal
Ainda és capital
Do amor em Portugal
Ainda

Coimbra onde uma vez
Com lágrimas se fez
A história dessa Inês tão linda

Coimbra das canções
Tão meiga que nos pões
Os nossos corações a nu

Coimbra dos doutores
Pra nós os teus cantores
A Fonte dos Amores és tu

Coimbra é uma lição
De sonho e tradição
O lente é uma canção
E a Lua a faculdade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

O livro é uma mulher
Só passa quem souber
E aprende-se a dizer saudade

Um dos seus Fados mais conhecidos...

FADO DA TENDINHA

Junto ao Arco da Bandeira

Há uma loja “a Tendinha”

De aspecto rasca e banal;

Na história da bebedeira

Aquela casa velhinha

É um padrão imortal.

Refrão

Velha taberna,

Nesta Lisboa moderna,

É a tasca humilde, eterna

Que manténs a tradiçao;

Velha Tendinha,

És o templo da “pinguinha”,

Dos dois brancos, da gimbrinha,

Da boémia e do pifão.

Noutros tempos, os fadistas

Vinham já grossos das hortas,

P’ra o seu balcão caturrar;

Os fidalgos e os artistas

Iam p’r’ali horas mortas,

Ouvir o fado e cantar

Um pouco da sua vida...

Ninguém diria, mas o compositor de algumas das mais populares e conhecidas canções, fados e marchas de Lisboa era... militar de carreira! Raul Ferrão escreveu música para mais de uma centena de peças de teatro e revistas e ainda para alguns dos mais aclamados filmes portugueses.
A ele se devem êxitos como Cochicho, As Camélias, Burrié, Velha Tendinha, Rosa Enjeitada, Ribatejo, e ainda canções para os filmes A Canção de Lisboa, Maria Papoila, A Aldeia da Roupa Branca e A Varanda dos Rouxinóis; e escreveu ainda música para operetas como A Invasão, Ribatejo, Nazaré, Colete Encarnado ou Senhora da Atalaia.
Em 1907, com 17 anos de idade, ingressou na carreira militar. Foi professor da Escola de Guerra em 1917 e 1918, depois de ter cumprido comissões de serviço em África durante a I Guerra Mundial.
Ferrão, formado em engenharia química, começou a compor durante os anos vinte e chegou a ser representante da antecessora da Sociedade Portuguesa de Autores, a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais, em congressos internacionais de direitos de autor.
Extraordinariamente produtivo como compositor (só na década de quarenta escreveu música para quase quarenta revistas!), as suas criações atravessaram gerações, e basta recordarmos duas das mais importantes: Lisboa Não Sejas Francesa, originalmente composta para a opereta A Invasão, e o eterno Coimbra, que, contudo, tem uma história curiosa.
De facto, a melodia de Coimbra existia desde 1939 sem que Ferrão conseguisse que lha aceitassem numa peça. A canção foi ficando na gaveta até que, finalmente, apareceu em 1947 no filme Capas Negras, onde foi criada por Alberto Ribeiro, ironicamente, sem grande sucesso. Só três anos mais tarde, quando Amália a interpreta numa digressão internacional, a canção se tornaria popular em todo o mundo, ficando conhecida no estrangeiro como Avríl au Portugal ou Apríl in Portugal... Ferrão ainda assistiu ao triunfo desta "canção enjeitada" antes de falecer em 1953. O realizador e produtor televisivo Ruy Ferrão, seu filho, encarregou-se de manter viva a sua memória.

Rául Ferrão


Início...

Como Bisneta do famoso Maestro e Compositor Raúl Ferrão decidi criar este Blog onde poderão reviver alguns fados compostos por ele e conhecer um pouco da sua vida...

Porque afinal as memórias não se apagam!